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Minha História

"Porque todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus."

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"Dummmmm, foi o barulho que estremeceu minha mente. Era o o impacto da minha cabeça no fundo do mar. Um soluço silencioso seguido pelos mais longos segundos da minha existência". Assim começa a história do meu renascimento em 12/01/2002. Nós acordamos, comemos, trabalhamos, nos envolvemos com as atividades cotidianas e vivemos nossa rotina num looping que parece infinito, estático, previsível. Quase nunca paramos para perceber os detalhes da vida, até que de repente, inexoravelmente, tudo muda. A dimensão do que é vida, liberdade, das coisas que realmente importam ganham proporções imensuráveis e impõem um desconcerto reflexivo que cruza as fronteiras das nossas crenças, conceitos, valores. Meu nome é Luciano Alves, eu tinha 15 anos, sempre adorei ir à praia, praticar esportes, viajar, fazer trilhas, curtir a vida, contemplar a natureza. Sempre fui muito ativo e independente, e como qualquer adolescente tinha planos e sonhos que iam das coisas mais simples às mais audaciosas. Aquele dia parecia um sábado como qualquer outro, um dia quente, como de costume nos verões cariocas, um sol tímido e um roteiro clichê, mas obrigatório: praia. Eu estava com um amigo e um colega, lembro que fomos andar na famosa pedra do Arpoador. O tempo tinha fechado e de forma bem atípica, um vento frio de arrepiar os pelos do do corpo. Eu estava olhando as ondas batendo nas pedras, apreciando o cheiro do mar,

e numa fração de segundos eu estava submerso, sem os movimentos do ombro para baixo, tentando em vão voltar pra superfície. Já estava quase desmaiando quando me colocaram em cima de uma pedra. Ali, eu flertei com a morte, a experiência mais complexa e mais arrebatadora que alguém pode vivenciar.  Enquanto meu amigo Willian apoiava minha cabeça em uma de suas mãos, senti uma onda da ponta dos meus pés até a minha cabeça enquanto eu desfalecia. Com a voz fraca, sei o meu último fôlego para dizer: cara, eu acho que vou morrer, pede perdão para minha mãe por mim e fala que eu a amo muito. Eu vi os olhos de choro e medo dele antes de perder a consciência. Ali é como se eu não tivesse mais no meu corpo, talvez em outra dimensão. Era como se o meu corpo estivesse na pedra e eu não estivesse mais nele. Lembro que eu só falei: meu Deus, eu sei que eu vou morrer, me perdoa por todas as oportunidades que eu perdi, qualquer coisa que eu tenha feito de errado, só não deixa minha mãe sofrer. Nisso eu pude ver a minha vida inteira no flash, e acordei sentindo o vento do helicóptero. Ali eu tinha certeza que eu não ia mais morrer.

“Acredito que na vida todos os dias temos duas escolhas: nos lamentar pelo que perdemos ou aproveitar da melhor forma possível novas oportunidades. Eu escolho fazer arte com a vida”. 

Internação
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Eu acordei na sala de emergência do hospital Miguel Couto com o choque do desfibrilador. Foram três paradas cardíacas. No CTI passei por momentos muito complicados. Muitas dores, corpo muito fraco, convivia todos os dias com a iminência da morte, mas nada comparado a ver a tristeza e apreensão no rosto das pessoas que me amavam, ainda que todos tentassem disfarçar.  Foram três meses de internação até a minha alta em março.

Reabilitação
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De la fui direto para a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação - ABBR, um lugar que se tornou a minha segunda casa por um bom tempo e que para sempre terá um lugar especial no meu coração. Na ABBR eu mergulhei num universo completamente diferente. Ali eu iniciei um processo de conquista e de reconquistas à medida em que eu conhecia mais sobre meu corpo, minhas limitações. Desde então sempre busquei resgatar minha autonomia ou pelo menos ser o mais independente possível dentro das minhas limitações. Nesse processo desenvolvi adaptações para poder escrever com a boca, digitar no computador, atender o telefone, dentre outras coisas. No mesmo ano tive uma passagem de dois meses pelo Sarah Kubitschek em Brasília, que também me agregou muito conhecimento. 

 

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Arte

 A arte surgiu na minha vida de forma rápida, intensa e despretensiosa. Após uma oração a Deus e em meio a um processo de reconhecimento pessoal, enveredei pela pintura, caminho até então desconhecido. Foi uma paixão avassaladora com um misto de surpresa, uma vez que antes do acidente, quando podia utilizar as mãos, eu não tinha nenhuma habilidade com desenho ou pintura. Eu passava horas testando tons, nuances, formas. A cada pincelada um novo mundo descortinava-se. Um encantamento voraz, constante, que me fazia transpor barreiras, cruzar novas fronteiras.

 

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